A numeração de Unidades Comerciais (ou Handling Units) utilizando códigos SSCC traz vantagens na operação logística, por ser um sistema robusto e amplamente reconhecido por vários pontos de conexão de uma cadeia logística. Frequentemente é visto como um método interessante de controle de numeração, pricipalmente pela boa visibilidade no mercado – o que em alguns casos, faz com que seja eleito como método principal até mesmo em situações onde suas vantagens não são percebidas.
O objetivo desta publicação não é mostrar as configurações necessárias para a utilização de numerações SSCC – mas sim colocar alguma luz sobre o processo de decisão sobre usar ou não esse tipo de numeração.
SSCC significa Serial Shipment Control Code – ou em tradução livre, código de controle serial de remessa. Criada e mantida pela GS1, tem como objetivo padronizar a identificação de unidades logísticas de maneira a facilitar o rastreamento e a identificação dos objetos em trânsito.
Não se trata apenas de uma forma de numeração – o padrão mantido pela GS1 também especifica tamanho máximo e mínimo das etiquetas e códigos, bem como a posição ideal nos paletes, para garantir que sistemas automatizados possam operar melhor durante toda a cadeia logística.
Esses padrão pode ser utilizado em diversas situações, embora tenha sido desenvolvido e focado na área de integração entre processos logísticos, facilitando a troca de mensagens e identificações eletrônicas, como por exemplo, nos ASN – Advanced Shipping Notification.
O código é essencialmente formado por 18 dígitos numéricos, representados em um código de barras em formato GS1-128 e/ou em etiquetas RFID.
Exemplo de código SSCC com identificador de empresa de 7 dígitos
As soluções SAP, em especial o Extended Warehouse Management, já possuem controles internos standard que tornam simples a configuração e utilização de numerações SSCC.
É importante lembrar que um número SSCC gerado é único no mundo todo. Por conter um identificador único da empresa, devidamete registrada na GS1, é impossível que duas empresas diferentes emitam um mesmo código – evitando assim qualquer problema de duplicidade nos registros de rastreamento e identificação pelo mundo afora.
O ciclo de vida de um número SSCC dentro do depósito deve ser bem definido. Ele entra no depósito (ou é criado dentro do depósito), pode ou não ser armazenado, e é expedido. Assim que passa pelo último passo – a expedição – esse número não deveria mais tornar a aparecer dentro daquele depósito.
Se seu processo prevê cross-docking, esse cenário está coberto corretamente – o número SSCC entra via recebimento, e tão logo seja possível, sai via remessa; já em um centro de distribuição ocorre o mesmo, apenas com algumas etapas de armazenamento e picking.
Muita atenção ao processo: lembre-se que números SSCC tem uma função de rastreamento dentro da cadeia de ASN, o que significa que ele tem um prazo de vida – idealmente, o número deveria se tornar inválido assim que atinge o destino final. Outro ponto importante é que, se o pacote é reembalado ou recebe novos materiais durante o caminho, o número SSCC deve ser trocado.
Lembre também que estes números são únicos, e por estarem normalmente atribuídos a uma remessa e um ASN, a reutilização deles é limitada – afinal, isso invalidaria por completo o propósito do SSCC, que é a rastreabilidade dentro da cadeia logística.
A resposta simples é sim, mas alguns pontos precisam ser observados. Utilizar números SSCC para controlar internamente as UCs pode ser uma prática vantajosa, principalmente caso seus produtos sejam expedidos diretamente e sem processos de reembalagem (quando a UC é expedida por inteiro para o destino final ou para transferências). Lembre-se de que números SSCC são únicos e seriais, então são compatíveis com o uso para a numeração interna de UCs.
No entanto, no caso de uma devolução, a UC estará voltando por completo para dentro do depósito, com o mesmo número de identificação – e isso não pode acontecer, pois aquele número SSCC já esteve dentro do depósito e foi atribuído a uma remessa. O sistema vai recusar essa identificação, pois já existe histórico daqule número. O correto, neste caso, é reembalar a UC logo na entrada, atribuindo uma nova identificação.
Casos de retorno para reprocessamento em unidades fabris também merecem atenção pelo mesmo motivo. Situações onde um palete ou unidade comercial é gerada pela linha de produção e depois transferidos para outros depósitos são comuns – mas na necessidade desta unidade comercial retornar à fábrica ou ao depósito inicial, a numeração não poderá ser mantida. Neste caso, deve haver uma nova atribuição de identificação antes do retorno, ou no momento do recebimento na fábrica.
Lembre-se: a finalidade principal de um número SSCC é rastrear o envio da mercadoria. Quando a mercadoria chega ao destino, o processo de envio terminou. Caso haja uma devolução, trata-se de outro processo de envio (ainda que reverso), e o número anterior já não deve ser tido como válido, portanto.
A palavra “rastreamento” está ligada fortemente ao SSCC; e está correto, pois essa é de fato a finalidade deste código. O problema é que às vezes há um erro no entendimento do conceito.
O SSCC não substitui a utilização de gestão por lote e número de série! Note que o lote / número de série do produto acompanham a vida do produto, enquanto o identificador SSCC acompanha apenas o trânsito entre os vários pontos logísticos que a mercadoria vai passar.
O que o SSCC permite é uma numeração e formato uniforme de identificação para casos onde a mercadoria vai passar por vários centros logísticos ou pontos de contato até chegar ao destino final – principalmente quando falamos de cadeias multimodais, armazéns intermediários e manejo por sistemas de terceiros. Ele oferece uma maneira simples de ligar o pacote ao conteúdo e à origem, permitindo o rastreio entre os diferentes sistemas pelos quais vai passar durante a rota.
Assim, se você pensa em implementar numeração de UC com base em SSCC para ter a oportunidade de rastrear os produtos ou caixas de maneira semelhante a um número de série, o conceito está equivocado.
Em alguns casos, é fácil identificar que a mercadoria X, do lote Y, foi produzida e armazenada dentro da UC com um determinado número SSCC. Seguindo esse conceito, é possível até mesmo saber para quem ou para onde a UC foi expedida. Mas lembre-se de que qualquer procedimento de reembalagem pode invalidar parcialmente ou totalmente esse “rastreamento”.
Cada número SSCC é composto por 18 dígitos, onde estão guardadas informações sobre o tipo de aplicação, código da empresa originária, número de série, e um dígito verificador. A parte serial do SSCC – ou seja, a parte onde realmente acontece a numeração e identificação – se resume a 7 ou 9 dígitos, mais o tipo de aplicação (um dígito). Isso dá uma quantidade efetiva de 100 milhões de códigos caso sua empresa tenha uma identificação de 9 dígitos, ou de 10 bilhões de códigos caso sua empresa tenha identificação de 7 dígitos.
No entanto, para atingir o mesmo número com um range interno simples, você precisa de apenas 10 dígitos para atingir a mesma marca (talvez excessiva) de 10 bilhões de UCs (perde-se aqui o dígito verificador). Definitivamente, comparado aos dezoito dígitos do SSCC, é um código menor caso seja digitado manualmente – e que também resulta em um código de barras menos extenso para leituras via coletores de dados – o que pode ajudar nos layouts de etiquetas internas.
Embora possa ser utilizada internamente, há poucos benefícios em utilizar SSCC apenas para processos internos de depósito. Esse tipo de numeração realmente brilha quando falamos de controles mais avançados na expedição e na cadeia logística.
Ainda assim, o cenário ideal seria controlar os números de UCs por meio de ranges internos, mais flexíveis, e aplicar uma etiqueta de despacho (ou shiping label) contendo uma numeração SSCC, apenas no momento da expedição, ligada ao ASN da sua remessa. Isso garante que você não está consumindo seu intervalo de numeração do SSCC de maneira indiscriminada, e apenas utilizando esse tipo de código onde ele realmente faz a diferença.
GS1 – Identificação de Unidades Logísticas
GS1 – Padrão GS1-128
https://www.gs1br.org/codigos-e-padroes/captura/Paginas/GS1-128.aspx